outubro 22, 2007

Lençóis
(Eu & Alexandre Beanes)

Se coloco meus lençóis no pequeno varal do amor
É para que sequem ao vento
Ou que molhem na brisa orvalhada da madrugada.
E hoje caio no esquecimento.

Deixo de lado todas as lições, abandono regras, confortos de salas conhecidas, de leitos camaradas. É quase como esquecer também do medo, sabê-lo distante, uma chama tremeluzindo do outro lado da minha vida e que não chega até mim porque não quero, porque não posso.

Abraço o que não entendo, arvoro-me na única certeza, que é a da queda iminente, sem pensar em fugir do destino, este monstro de luz e sombra que insiste em se colocar adiante, sempre à frente dos meus passos vacilantes. Pois hoje sou mulher que corre ao encontro dele, deixando para trás a menina que se agarra aos cobertores e anseia pela chegada do dia.

Olhando pela janela vejo a noite quieta, insondável. A alma do mundo em absoluto silêncio. Tudo à espera de me ver passar: as estrelas pararam de cair, as flores dormem nos quintais. Gatos deixam de amar nos telhados, cessam os lamentos felinos; cães não latem, homens não gritam, carros estacionam – a morte dos motores. Em suspenso, a respiração da vida. Só ouço meu coração, e este bate frágil, oculto, adormecendo.

Então sei o que preciso fazer. Sei, em cada centímetro do meu corpo. Conheço a missão sagrada do amor, e tanto a conheço que entendo, com perfeita clareza, cada minuto em que a vida me concede o silêncio: estou aqui, esta é a janela, mais adiante a existência.

Um comentário:

Alexandre Beanes disse...

estou aqui e nem sabia. gosto tanto!
bjs e saudades muitas