abril 26, 2009

ALFABETA

Movimentos de insetos no meu teto, brincando com as conchas do lustre suspenso. Esgueiram-se próximos à lâmpada branca e perdem suas asinhas de seda. Rastejam de ponta-cabeça e nos olham de cabeça-ponta, na certa não entendendo o que fazem essas criaturas cor-de-rosa peludas castanhas caminhando onde não se deve, o que comem tais infelizes, tamanhas porcarias, e que tanto emitem sons sem precisar. Chamam-se criaturas alfa, as de ponta-cabeça, e criaturas beta, as de cabeça-ponta. As alfa sofrem sem ruído. As beta mastigam coisas verdes. As alfa mastigam; as betas regurgitam. As alfa planejam passeios, e as betas planejam ficar planejando. As alfa, somente, pousam. As beta, ao contrário, agitam-se inutilmente. A vidinha alfa é um mascar de chicletes na vidona beta. A vidinha beta é um sorriso cínico na vidona alfa. Tremelicam as perninhas alfa, encapotam-se os membros beta. Por tudo isso não podem se encontrar, alfa e beta, tanto melhor que não se encontrem jamais e fique cada uma em seu poleiro, curtindo a vista, chamando uma pizza ou ignorando a ponta-cabeça e a cabeça-ponta.

Nenhum comentário: