outubro 26, 2009

O GOLEM

Houve uma época em que criei um golem. Busquei tratados, estudei os detalhes da operação. Tentei criar um golem e quis dar-lhe o dom da palavra. Pensei fazê-lo de argila vermelha e terracota, alto como o Davi de Michelangelo, forte como o Minotauro, e tão sábio quanto os mais elevados doutores de nosso tempo.

Fiz o monstro seguindo à risca os preceitos cabalísticos e os segredos que descobri em meus estudos, evitando cometer os mesmos erros daqueles que tentaram e falharam antes de mim. Coloquei em minha criação todo meu espírito, na tentativa de incutir na argila que moldava um pouco de minha própria personalidade e conhecimentos. Conversava com ele; assemelhava-se a um boneco tétrico, um espantalho esquecido em uma plantação abandonada há muito.

No término de minha obra - o sol queimava minha cabeça, meu corpo, à beira do rio, - estivesse alguém a me vigiar, veria uma invenção assombrosa: um gigante de músculos salientes, nu, mas sem sexo, e com um olhar que nada dizia. Efetuei as conjurações para incutir-lhe o dom da fala, o qual dependia exclusivamente do Mistério. Ao término, escrevi em sua testa a palavra secreta, dando-lhe vida.

Mas, um escravo não pode ser sábio, e isso pode ser entendido de várias maneiras. A natureza do golem o dominou e ele me agarrou fortemente. Quando eu ordenei que me soltasse, disse: "não posso, nasci pelas mãos de um homem mau e tolo". Tendo dito isto (e rejubilei-me, em meio ao desespero, com o fato de ter conseguido fazê-lo falar), atirou-me a um canto e pôs-se a juntar argila com as mãos imensas, tentando moldar um semelhante.


Precisou de mim para escrever a palavra secreta na testa do novo golem que criara.

...

Um comentário:

paredro disse...

Mapie Borgiana ?

Eu gostei =)

Beijo.